depoimentos

César Camargo Mariano

Nico Assumpção para mim era uma pessoa muito alegre, inteligente e bem humorada. Muito gentil e generoso. Nos respeitávamos muito e tinhamos uma identificação pessoal e musical muito intensa.

Me lembro com saudades de momentos especiais, ao lado de Nico, que retratam bastante esta sintonia musical. Um deles foi uma gravação que fizemos com João Bosco. Somente nós tres. Nico de baixo, João de violão e voz e eu de teclado (orgão). Foi um momento muito inspirado, para nós tres. Tudo foi montado no estúdio, em alguns minutos e parecia que tínhamos ensaiado um mês. Clique aqui e veja o video.

Um outro momento foi a gravação do primeiro projeto “Casa da Bossa”, da Universal. Fui convidado para ser o diretor musical, arranjador e pianista do projeto e montei um quarteto com Nico (baixo), Romero Lubambo (guitarra) e Téo Lima (bateria). Foi um momento muito especial em termos musicais e de convivência com Nico. Ficamos durante 20 dias, 12 horas por dia, ensaiando com os cantores, tocando, criando, nos divertindo. Nos intervalos, enquanto alguns iam comer ou “esticar as pernas”, nós dois ficávamos tocando em duo (piano e baixo acústico), era uma delícia. Clique aqui e veja um dos momentos.

Também na gravação do álbum do Emílio Santiago, “Perdido de Amor”, em homenagem a Dick Farney em que eu era o arranjador. O trabalho do Nico, tanto no baixo acústico quanto no elétrico, é impecável. Muito musical e criativo, contribuiu bastante nos arranjos de base.

Para uma das faixas do álbum, sugeri uma fusão entre a gravação original do Dick Farney, com trio piano, baixo e bateria, com a que estávamos fazendo, na mesma formação. Ficamos um dia inteiro trabalhando nesta faixa e a dedicação do Nico me emocionou profundamente.

Sempre me chamou muito a atenção a potencialidade musical do Nico e sua capacidade de criação e improvisação. Todos nós, músicos, sabemos que improvisar não é somente juntar um monte de notas, fazer “frazes feitas” e aplicar as escalas aprendidas nas escolas. Na minha opinião, ele era um dos poucos baixistas a improvisar com perfeição. Possuia criatividade, musicalidade, e, principalmente, bom gosto. Assisti algumas “jam-sessions” em que ele participava nos antigos “Jazzmania” e no “People’s”, no Rio, com músicos brasileiros e extrangeiros. Não só eu, mas todos ficavam impressionados e emocionados com a performance do Nico. Essa era uma marca muito forte dele.

Na minha opinião, a importante contribuição que ele deixou para os músicos e a música do Brasil, além de sua personalidade musical, foi o respeito, a generosidade, o profissionalismo e a dedicação deste grande músico para com a sua própria arte.