depoimentos

Zé Eduardo

"O meu primeiro contato com ele foi por intermédio do Adriano Giffoni, porque eu tinha feito um fretless pra ele e ele tava tocando num bar no Rio, cruzou com o Nico e o passou o contato para ele. O Martau conhecia o Nico e o levou na oficina. Ele chegou prá mim: Zé, eu quero um baixo."

Ze Eduardo"Ele foi um dos únicos ou o único músico que chegou no meu trabalho, encomendou um instrumento, se sentiu a vontade, nem perguntou prá mim que madeira eu iria usar, não perguntou o desenho, a colocação dos captadores, não perguntou nada. Adquiriu tal confiança em mim que o instrumento ficou a minha cara e a cara dele. Ele foi o único baixista que conseguiu interpretar as minhas loucuras musicais que eu tinha na cabeça. Conseguiu tocar as minhas idéias que eu não consegui botar prá fora."

"Era véspera do Nico viajar com o João Bosco para a Europa ai ele chegou na oficina numa quarta feira e disse: “Zé, to indo sexta feira que vem para a Europa, vou passar na Inglaterra e encomendar com o luthier do Paul McCartney e do Geddy Lee.” – ele achava que dava uma pressão na gente e eu num entrei na pilha dele."

"Na segunda de manhã cedo o Nico aparece no escritório. “Zé, cadê o meu baixo” - Nico começou a ficar impaciente, andando de um lado pro outro, batendo o martelo na mesa, pegando a vassoura e varrendo o chão. Ai eu falei: “Nico, me ajuda aqui, vai ali no escritório, logo ali no lado esquerdo, pega uma vassoura lá prá mim.” Qual foi a surpresa do Nico quando entrou na sala: o baixo estava lá, pronto, colocado sob um cavalete e descoberto. Ele ficou horas tocando o instrumento. No Free Jazz in Concert de 1988 foi feito uma apresentação do Nico e foi a grande estréia do baixo."

No baixo de 5 cordas ele usava a afinação Mi, Lá, Re, Sol, Dó, como se utilizasse o baixo de 4 cordas para condução.

O primeiro baixo de 6 cordas foi construído com 26 trastes, uma vez que o Nico sentiu necessidade de ir além. "Construi um baixo prá ele com madeiras nacionais, pau marfim, mecânica Schaller, os captadores Bartolini, que o Nico havia trazido dos Estados Unidos. O circuito pré foi desenvolvido pela gente mesmo, de braço interiço, sendo que o design era todo nosso. O Nico chegou a pedir um baixo de 7 cordas, Si, Mi, Lá, Re, Sol, Dó, Fá. Ai eu brinquei: Nico você quer que eu faça mais um dedo prá você também?"

Esse baixo não chegou a ser construído.

"Certa vez o Nico foi socorrer o Ricardo Silveira nos Estados Unidos, pois ele precisava de um baixista, para fazer um workshop no GIT. O Nico virou a sensação da escola e os caras da Bass Center piraram com o instrumento. O Alan Morgan perguntou ao Nico. "E ai Nico, que instrumento é esse ai?" Nico tava comprando encordoamento e coisa e tal, mas tinha esquecido o cartão no Hotel. No que ele volta para o Hotel o pessoal tinha vasculhado o baixo inteiro para descobrir o segredo daquele som. Quando o Nico voltou o Alan Morgan falou. “Olha, escolhe ai o que você quiser, mas esse baixo não sai daqui. Na época estava entrando o Warwick e o Yahama TRB nos EUA. Me dá o contato desse cara ai.” Então ele fez contato, mas eu não tinha estrutura para atendê-lo."